As Vantagens da Ergonomia em Casa e nos ambientes de Trabalho

Com o avanço da tecnologia e a popularização do trabalho remoto, o número de pessoas com queixas de passarem longas horas em posições inadequadas aumentou significativamente. Essa mudança nos hábitos de trabalho e estudo trouxe à tona um tema essencial para a saúde e bem-estar: a ergonomia. Mais do que conforto, a ergonomia é uma ciência que busca adaptar o ambiente, as ferramentas e as tarefas às características do ser humano por meio de tecnologia e do desenho industrial, prevenindo lesões, fadiga e problemas de saúde a longo prazo.

O Que são as práticas de Ergonomia?

As normas de ergonomia estabelecem diretrizes para garantir condições seguras e saudáveis nos ambientes de trabalho, mas é importante considerá-las também em outros espaços. No Brasil, a principal referência é a Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17), do Ministério do Trabalho e Emprego. Ela define parâmetros para a organização do trabalho, o mobiliário, os equipamentos e as condições ambientais, com o objetivo de promover o conforto, a segurança e a eficiência no desempenho das atividades.

Além da NR-17, também há diretrizes da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), como a NBR 9050 (que trata da acessibilidade, mas com impactos ergonômicos) e normas específicas sobre mobiliário, como a NBR 13962 (móveis para escritório). Internacionalmente, a ISO 9241 é uma referência importante, especialmente no que diz respeito à ergonomia da interação homem-computador.

Ergonomia no Home Office

Com a crescente adoção do home office, muitas pessoas improvisaram estações de trabalho em ambientes inadequados, como sofás, camas ou mesas de jantar. Essa prática, a longo prazo, pode trazer sérios prejuízos à saúde. Aplicar as normas ergonômicas em casa é tão importante quanto nos escritórios corporativos.

Investir em ergonomia no home office traz benefícios claros: aumento da produtividade, redução da fadiga mental e física, melhora no humor e na disposição para realizar tarefas. Além disso, contribui diretamente para a prevenção de dores musculares, estresse e doenças ocupacionais, que muitas vezes são silenciosas e progressivas.

Entre as principais recomendações ergonômicas para o home office, destacam-se também as medidas ideais para os móveis, conforme a seguinte indicação:

  • Altura da mesa: idealmente para mulheres deve ter 65 cm e para os homens, entre 70 cm e 75 cm do nível dos pés à mesa;
  • Altura da superfície do assento da cadeira: idealmente entre 43 cm e 50 cm do chão;
  • Extensão vertical do encosto da cadeira: mínimo de 24 cm;
  • Altura da tela do monitor: o topo deve estar na altura dos olhos, entre 1,10 m e 1,20 m a partir do chão;
  • Distância entre os olhos e a tela: de 45 a 70 cm, evitando esforço visual;
  • Apoio dos pés: quando necessário, utilizar um suporte com leve inclinação;
  • Apoios para os braços: devem estar na mesma altura da mesa ou ligeiramente abaixo, permitindo que os ombros fiquem relaxados.

Essas medidas ajudam a manter a postura correta e evitam sobrecarga muscular ao longo do dia. Investir em móveis com dimensões adequadas — ou adaptá-los — faz toda a diferença no conforto e na saúde a longo prazo.

Ergonomia no Escritório Tradicional

Nos escritórios presenciais, seguir as normas de ergonomia é essencial para evitar doenças ocupacionais como LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), dores lombares e problemas visuais. Mobiliários ajustáveis, como cadeiras com apoio lombar, mesas na altura correta e iluminação adequada são indispensáveis. A organização do espaço também deve permitir pausas regulares e movimentação do corpo.

Riscos e indicadores de postura incorreta

Os riscos ergonômicos mais comuns em um ambiente de produtividade são:

  • Pescoço em flexão excessiva ou extensão;
  • Trabalho estático;
  • Braços elevados, principalmente acima do nível dos ombros;
  • Mesa na altura errada
  • Manutenção de flexão de coluna lombar, mesmo que pouco durante a atividade
  • Trabalho em pé, sem pausas para descanso
  • Movimentos altamente repetitivos
  • Atividades com desvios de punho em flexão
  • Trabalho de cócoras ou ajoelhados.
  • Força excessiva;

Ergonomia no Dia a Dia em Casa

Mesmo fora do contexto de trabalho, a ergonomia deve estar presente nas atividades diárias em casa: lavar louça, cozinhar, limpar, usar o celular ou assistir TV. A altura das bancadas, a postura ao utilizar dispositivos e o tempo de permanência na mesma posição são fatores que, quando ignorados, também podem afetar a saúde.

Adaptar a ergonomia ao ambiente doméstico também ajuda a preservar a qualidade de vida ao longo do tempo, promovendo hábitos mais conscientes e saudáveis — o que é especialmente importante para quem envelhece ou convive com dores crônicas.

Pensando nas demais necessidades de ergonomia em casa, existem ainda móveis e superfícies que estão diretamente ligados à funcionalidade de outros ambientes, como as bancadas de cozinha e armários.

Idealmente, as bancadas neste ambiente devem estar na altura dos cotovelos quando seus braços estão em um ângulo de 90 graus. Isso ajuda a manter uma postura ergonômica enquanto trabalha na cozinha.

A altura ideal para bancadas de cozinha costuma variar entre 85 cm e 93 cm, com profundidade entre 50cm e 60cm, mas essas medidas podem mudar conforme as especificidades do local e as preferências de cada pessoa. Desse modo, as banquetas variam de acordo com a bancada, mas elas devem ter 30 cm de diferença em relação a ela.

Já entre o armário inferior e o superior a distância pode variar de 50cm a 80 cm. A medida de profundidade ideal para o módulo inferior é entre 55cm e 70cm, já para o módulo superior é de 30cm a 40cm.

Para mesas de jantar, normalmente uma boa altura, considerando desde o chão, é entre 70 e 75 centímetros, o que significa um excelente espaço para que as pessoas acomodem confortavelmente suas pernas. Além disso, em outros ambientes como a sala de estar, a altura do sofá ou poltrona, do assento ao chão, deve estar entre os 35 cm e os 50 cm.

Por Que Seguir as Normas?

Adotar as práticas ergonômicas descritas nas normas não é apenas uma questão de conformidade legal — trata-se de um investimento em qualidade de vida, produtividade e bem-estar. Profissionais que trabalham em ambientes ergonômicos tendem a ser mais eficientes, apresentar menos afastamentos por questões de saúde e desfrutar de maior satisfação no trabalho.

Além disso, uma casa pensada ergonomicamente contribui para a longevidade funcional do corpo. Pequenas mudanças, como ajustar a altura da tela do computador, posicionar corretamente a cadeira ou usar apoios para os pés, podem fazer uma grande diferença a médio e longo prazo.

Conclusão

A ergonomia não deve ser vista como um luxo, mas como uma necessidade. Seguir as normas ergonômicas — seja no escritório, no home office ou nas tarefas domésticas — é essencial para garantir saúde física e mental em um mundo cada vez mais digital e sedentário. Conhecer e aplicar as diretrizes da NR-17, da ABNT e recomendações práticas dos profissionais da área de saúde pode transformar significativamente a relação entre pessoas e trabalho, promovendo uma rotina mais saudável e sustentável.

Texto por: Vinícius Guimarães, Engenheiro de Produção e Responsável técnico na Franccino.